Tiradentes esquartejado. Óleo sobre tela de Pedro Américo, 1893 |
Aos 20 dias do mês de abril do
ano de 1792, no Rio de Janeiro, capital da América portuguesa, eram publicadas
as condenações a respeito dos inconfidentes mineiros. Uma delas em especial
merece relevância, a de Tiradentes, como podemos observar a seguir:
(...) condenam o réu Joaquim José
da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, (...) a que (...) seja conduzido
pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre,
e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada à Vila Rica, aonde no
lugar mais público dela será pregada em um poste alto até que o tempo a
consuma; o seu corpo será dividido em quatro quartos e pregado em postes pelo
caminho de Minas (...) aonde o réu teve as suas infames práticas (...) até que
o tempo também os consuma. Declaram ao réu infame, e infame seus filhos e
netos.
Autos da devassa da Inconfidência
Mineira, citado por Silvia H. Lara. Em: Obra citada. p. 19
A condenação de Tiradentes produziu um dos mais famosos episódios da nossa História e uma das mais icônicas imagens, “TIRADENTES ESQUARTEJADO” produzida pelo pintor paraibano Pedro Américo (1843-1905), no ano de 1893. Dada a relevância da obra, presente em praticamente todos os livros didáticos, passaremos então a analisar seus detalhes e a simbologia que há por trás da cena criada:
O primeiro fator que nos chama a
atenção é que o autor fez questão de manter as partes do corpo do condenado
Tiradentes, reunidas em uma mesma cena. Percebam que a disposição de suas
partes, nos faz lembrar do formato do mapa do Brasil, nos inclinando a associar
a cena à História do Brasil, ou justificando à causa do “mártir” como nacional.
Na verdade sabemos que a luta de Tiradentes foi regional, o que nos leva a
afirmar que a cena não passa de uma construção ideológica, uma vez que as
partes teriam sido espalhadas como foi explanada no trecho acima referente à
condenação do inconfidente. O segundo ponto a observar é a aparência do
condenado com Jesus Cristo, o Salvador, aquele quem lutou pela Liberdade dos
pecadores contra a opressão do mal, ou seja, a causa do inconfidente também era
a Liberdade, sua luta era contra a tirania opressora da Coroa portuguesa.
Percebam que a forca não tem um destaque na cena, o que sobressai é o crucifixo
ao lado da cabeça de Tiradentes, a sua presença é um dos fatores que nos
permite fazer a associação agora relatada. Outro aspecto é o fato de Tiradentes
está cabeludo e barbudo, não entrarei aqui na discussão da imagem real do
mesmo, o que temos que levar em consideração é o fato de que tradicionalmente
os prisioneiros e condenados à forca eram conduzidos à mesma, vestidos em um
“camisolão” branco e com cabelos e barbas devidamente raspados.
O braço desfalecido de Tiradentes
faz alusão ao braço desfalecido de Marat, líder revolucionário francês
assassinado em 1793 e que também teve a sua morte pintada, construída, pelo
pintor neoclassicista francês Jacques Louis David. Observe abaixo a tela citada
“A morte de Marat”.
A morte de Marat. Óleo sobre tela de Jacques-Louis David, 1793. |
Você deve está se perguntando,
qual seria a relação entre a Revolução Francesa (1789) e a Inconfidência
Mineira (1789)? Grosseiramente, eu diria que na prática não há relação direta,
mas aqui precisamos nos atentar para o período em que a obra “Tiradentes
esquartejado” foi pintada, 1893, são pouco mais de cem anos que separam a
execução do inconfidente mineiro e a construção da cena que analisamos. Em 1893,
o Brasil não era mais uma nação monárquica, mas uma República, recentemente
implantada pelo exército brasileiro e este processo de implantação, bebeu aos
largos goles do positivismo francês e de alguns princípios norteadores da
revolução francesa. Sendo assim, é inegável a carga cultural que Pedro Américo
sofrera deste contexto histórico transferindo-a para sua obra.
No início do período republicano (1889-1930)
o governo brasileiro procurava se desfazer de tudo aquilo que remetia ao
passado monárquico, era hora de ter seus próprios heróis em detrimento das
figuras portuguesas que predominaram até então na história política do Brasil
(Pedro Álvares Cabral, Tomé de Souza, D. João VI, D. Pedro I, etc.).
Tiradentes, por ser militar, por morar na importante região das Minas e dentre
outros fatores, foi especialmente pinçado da História, saindo da condição de
vilão, traidor, condenado ao esquecimento, para se tornar uma das principais
figuras da nossa história. Sua imagem construída foi amplamente divulgada
construindo no imaginário popular a figura mítica de um herói nacional
merecedor de constantes homenagens como nome de cidade, de ruas, feriado
nacional 21 de Abril, o seu rosto está gravado no anverso, popularmente
conhecido como “coroa” da moeda de 5 centavos e demais exaltações.
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ResponderExcluirOs rebelados eram mortos e esquartejados em quatro quartos e seus pedaços eram pregados em postes a caminho de minas.
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