O século XVI é tido por muitos
como o sinônimo da consolidação das mais diversas transformações ocorridas na
sociedade europeia desde o fim do período medieval, sejam elas no âmbito
social, econômico, político ou cultural. A Folha de rosto do atlas Theatrum
Orbis Terrarum, que trago para esta postagem, atlas este produzido por Abraham Ortelius em 1570 revela-nos aspectos extremamente interessantes ligados à
concepção europeia que se tinha naquela época em relação aos continentes. Na
verdade, o tal atlas é um documento oficial, uma vez que Ortelius era
cosmógrafo de Felipe II (Espanha).
Carregada de uma visão
EUROCENTRICA, a imagem proposta merece uma análise minuciosa que pretende
perpassar pela simbologia contida em cada um dos elementos presentes e para
isso, tomamos por base as observações feitas por dois historiadores em
especial, são eles: Gustavo Celso de Magalhães e Miriam Hermeto.
A página de rosto da obra de Abraham
Ortelius, cosmógrafo de Felipe II (Espanha), publicada em 1570, representa uma
visão sobre os quatro continentes conhecidos. No alto, está a Europa como
verdadeira filha de Deus. As figuras laterais representam a Ásia e a África e,
em posição diametral oposta à Europa, está a América. Ao seu lado, há um busto
esculpido sugerindo a possibilidade de um outro continente ainda não conhecido
(que seria a Oceania).
A EUROPA é apresentada como uma
mulher, acima de todos da cena e com uma a coroa e um cetro de comando do
mundo, ela está ricamente ornamentada; ao seu lado estão dois globos
sinalizando que ela é o centro do mundo (concepção essencial do eurocentrismo).
A ÁSIA é apresentada também através de uma figura feminina (de pé ao lado
esquerdo da cena) vestida, mas não com a mesma indumentária europeia. A mulher
(Ásia) carrega em sua mão um pequeno vaso (dourado) sinalizando o seu ouro e as
especiarias que produzia, no caso ilustrado, o incenso, percebido por meio da
fumaça que sai do mesmo vaso. Já a figura feminina que representa a ÁFRICA (de
pé ao lado direito) aparece minimamente vestida e negra (embora nem todos os
habitantes da África sejam negros e os europeus dessa época já soubessem
disso), tem em uma das mãos um galho como se seus habitantes ainda vivessem
basicamente daquilo que a natureza oferece e/ou porque produziam especiarias que
interessavam aos europeus. A AMÉRICA (mulher no extremo inferior da cena) aparece
totalmente nua e semideitada, como se seus habitantes não fossem muito afeitos
ao trabalho (“preguiçosos”), e bastante atrasados e selvagens por ainda não
utilizarem roupas (isso é uma generalização, pois os europeus conheceram povos
nativos na América que usavam roupas); ela tem nas mãos uma cabeça de uma
pessoa, mostrando que entre os habitantes reinava a barbárie e violência e que
viviam guerreando, como indicam as flechas. Ao lado da América, há um busto
esculpido sugerindo a possibilidade de um outro continente ainda não conhecido
(que seria a Oceania).
Enfim, a disposição das personagens
que compõem a cena (o fato dos continentes estarem abaixo da Europa e em uma
construção comandada pela Europa) a representação traz a noção de que todos os
outros continentes eram habitados por povos inferiores, que deveriam ser
conquistados e cristianizados. Ainda podemos dizer que, a imagem é tradução perfeita
do tal EUROCENTRISMO, aspecto extremamente polêmico e que foi durante muitos
anos e ainda é, muitas vezes, predominante na historiografia ocidental,
acobertando verdades históricas, apagando da História grandes personagens e “furtando”
méritos de outros povos em favor dos europeus.
Oi Professor Júnior,é seu aluno aluno Pedro Rian:
ResponderExcluirProfessor,eu me lembro deste assunto;e então vou complementar algumas coisas que eu me lembro,tais como:
A palavra EUROCENTRISMO significa o seguinte:
EURO=EUROPA E CENTRISMO=CENTRO ou seja
A Europa está no centro de tudo;ela é um exemplo de continente(visão aprimorada dos europeus),ela está como a verdadeira filha de Deus e também ela é considerada o continente que segue plenamente as ordens de Deus.
Olá Rian, como vai? Só de boa, heim?!
ExcluirSua observação está correta, só vale lembrar que esta é uma visão que o europeu tinha de si mesmo e procurou transparecer, convencer e submeter os demais povos a essa concepção.
Sempre bom vê-lo por aqui!
Abração!
Ótimo matéria!
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