quarta-feira, 21 de setembro de 2011

BLOQUEIO CONTINENTAL: o planeta sob a fome de mercado dos franceses e dos ingleses




A charge proposta para esta postagem foi produzida no início do século XIX pelo caricaturista  inglês James Gillray. A Cena criada procura retratar o clima de tensão vivido entre as duas maiores potências econômicas da época, França e Inglaterra, no exato momento em que Napoleão Bonaparte, imperador francês, decreta o Bloqueio Continental (1806), impedindo às nações do continente europeu que estavam sobre o seu domínio, de estabelecerem qualquer tipo de relações comerciais com a Inglaterra. Esta medida napoleônica visava enfraquecer a economia britânica.
Dessa forma, dotado de uma sensibilidade aguçada para tratar em suas obras de questões ligadas ao campo político e social, Gillray, fantasticamente utiliza-se de um banquete para demonstrar, ilustrar e satirizar a fome (gana) e a rivalidade destes dois grandes impérios que na charge encontram-se representados pelo Primeiro Ministro inglês William Pit (sentado à esquerda) facilmente identificado pela figura contida na cadeira em que se senta, um leão, símbolo da Grã-Bretanha, portando uma bandeira da Inglaterra e o Imperador francês Napoleão Bonaparte (sentado à direita), também facilmente identificado pelas plumas que compõe seu chapéu, nas cores azul, branco e vermelho, cores estas da bandeira francesa,  e pela águia real, símbolo utilizado por Bonaparte para representar o seu império. No centro da mesa, servido em uma bandeja como se fosse um bolo que acabara de sair do forno, muito apetitoso por sinal, está o planeta Terra que à luz daquele período encontrava-se dividido entre as pretensões francesas e inglesas.
Repare que a espada de Napoleão Bonaparte corta exatamente o continente europeu dividindo-o ou separando-o da Inglaterra, é exatamente neste ponto que se representada as pretensões napoleônicas a respeito do Bloqueio Continental, citado inicialmente neste texto. Por outro lado, percebe-se que a espada de Willian Pit corta o mundo ao meio, ficando sobre o julgo inglês toda a região do Oceano Atlântico aonde se faz presente as Américas, naquele período muito mais promissoras no sentido de mercado quanto a própria Europa.
Vale ainda salientar que esta disputa entre os dois países influenciou e muito na História de tantas outras nações, inclusive a de Portugal e da América portuguesa (Brasil). Foi fugindo da obrigação de aderir ao Bloqueio Continental e da real possibilidade de invasão do território português pelas tropas francesas que a corte portuguesa se transferiu para o Brasil e aqui passou a estabelecer relações comerciais ainda mais intensas com os ingleses. A Inglaterra ainda se beneficiaria nos processos de independência dos países americanos que resultara em nações novas, pouco industrializadas que acabaram se tornando “presa fácil” para o desenvolvido e industrializado mercado inglês. Por outro lado, o tal Bloqueio Continental trouxe sérios problemas para Napoleão Bonaparte que a partir de 1810 começava a ver seu império desmoronar.

Ficamos por aqui e antes de finalizarmos mais uma postagem, gostaria de agradecer a você que sempre tem acompanhado o blog que deverá completar em breve 10 mil acessos em apenas nove meses de criação.

Saudações históricas e um forte abraço!
Até a próxima!


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O GRITO DO IPIRANGA: A independência criada por Pedro Américo

A tela "Independência ou Morte" também conhecida como "O Grito do Ipiranga"
do pintor brasileiro Pedro Américo. 
Se eu pedi a 10 pessoas para retratarem através de um desenho o momento da Independência do Brasil, tenho a absoluta convicção de que todas tentarão representar, copiar, ou recriar a tela “O Grito do Ipiranga” do pintor paraibano Pedro Américo.
A tela que ficou pronta em 1888, e segundo o historiador Alfredo Boulos Júnior “trata-se de uma pintura histórica encomendada pelo governo de D. Pedro II para exaltar D. Pedro I e rememorar o nascimento da nação e do Império Brasileiro.”
Bom, se esse era de fato o objetivo da encomenda, nem é preciso tecer comentários ou discutir se ela atingiu ou não o seu propósito.
Na realidade esta postagem tem por objetivo fazer uma análise crítica e simbólica desta imagem que é facilmente encontrada nos livros didáticos visando ilustrar o 7 de setembro de 1822. Para começarmos, é necessário clarificá-los de que Pedro Américo, embora tenha recorrido a pesquisas para saber de forma exata ou bem próxima disso, as condições geográficas e paisagísticas do riacho do Ipiranga, local do episódio conhecido como “O Grito do Ipiranga” (nome da obra), ou seja, aonde D. Pedro I teria bradado a famosa frase “Independência ou morte!”, o pintor recorreu sobretudo a sua imaginação para tentar recriar a histórica cena.
Pedro Américo dispôs harmoniosamente os personagens em sua tela, podemos até afirmar que artisticamente falando, “O Grito do Ipiranga” é uma obra magnífica. Para que se pudesse ganhar a conotação pretendida, foram necessárias algumas consideráveis alterações e/ou substituições, que pode até mesmo chegarem ao julgo de “grosseiras” se forem comparadas ao que teria de fato ocorrido naquele fim de tarde de 7 de Setembro de 1822.
O que ver-se ao centro da cena, é D. Pedro I de espada em punho, muito bem vestido e montando um vistoso cavalo como se estivesse preparado para enfrentar a possível ira portuguesa. Esta figura central (D. Pedro I) transpassa a sensação de poder, de herói, de liderança, repare que a cena gira em torno dele, e que todos os demais estão a contemplar àquele que se tornaria o primeiro imperador do Brasil. Pedro Américo procurou retratar a todos que acompanhavam D. Pedro, da mesma forma, em trajes esplendorosos e cavalos imponentes, até porque tratava-se dos soldados da Guarda Imperial que a repetir o gesto do regente, o de erguer as espadas, simbolizam o apoio ao mesmo na luta contra o domínio português. Estes dois aspectos observados na tela, destoam completamente do que fora a realidade. Segundo o Cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, em seu artigo intitulado de “Os esplendores da imortalidade”, em um quadro como esse:

“Dom Pedro não podia montar a besta gateada de que falam as testemunhas. O pedestre animal [...] teve o desgosto de ser substituído no quadro pela nobreza de um cavalo. Com maior razão, [...] o augusto moço não podia ser representado com os traços fisionômicos de quem sofria as incômodas cólicas de uma diarréia, [...] o motivo da parada da comitiva às margens do Ipiranga [...]. O uniforme da guarda de honra também foi alterado. A ocasião merecia trajes de gala, em vez do uniforme ‘pequeno’. [...] Pedro Américo atendendo a finalidade da encomenda, buscou construir a imagem de um herói guerreiro, criador de uma nação. [...]”
 
Complementando o raciocínio de Olavo de Carvalho, podemos afirmar que naquele período as mulas e jumentos eram os animais utilizados para as viagens de longas distâncias, por isso o mesmo levantou a hipótese de D. Pedro I e seus acompanhantes estarem em mulas ao invés de imponentes cavalos como é retratado na tela proposta. Outro aspecto intrigante, é que em 7 de setembro de 1822, nem sequer fora criada ainda a Guarda Imperial, o que se ver na tela, na realidade trata-se de grupos elitistas latifundiários e proprietários de escravos oriundos principalmente das províncias de Minas e São Paulo que prestavam apoio ao regente, em forma de milícia e não de um exército ou Guarda Imperial como é mostrado no quadro. Muito além de simplesmente querer ver o Brasil como uma nação independente, o apoio destes homens é oxigenado pelas pretensões políticas e a possibilidade das concessões de privilégios que poderiam obter a partir do nascimento desta nova nação, o Brasil.
Observa-se ainda, ao fundo da cena, uma casa, esta também fruto da imaginação de Pedro Américo, pois a mesma em 1822 não existia, sendo ela construída anos mais tarde, por volta de 1850, ficando ela eternizada pelo quadro e conhecida por todos como  “A Casa do Grito”.
No canto esquerdo da tela temos alguns trabalhadores que contemplam passivamente o episódio. Não sei ao certo a intenção do artista ao pintá-los, mas que podemos tranquilamente estabelecer uma relação destes com o povo brasileiro e seu papel no processo de independência do Brasil, isto sim, até porque a Independência do Brasil não foi um ato que contou com uma forte participação popular, mas sobretudo elitista.
Duas últimas curiosidades sobre a tela o “O Grito do Ipiranga”: a primeira delas é o tamanho da obra que mede 4,15 X 7,6m, suas dimensões parecem querer tornar grandioso o feito de D. Pedro I, já a segunda curiosade é o fato da mesma está relacionada à possibilidade de se tratar de um possível plágio da pintura de Ernest Meissonier, Batalha de Friedland, uma das batalhas enfrentadas por Napoleão Bonaparte e seu exército. Na época duras críticas foram feitas a Pedro Américo neste sentido. Bom, a respeito disto, deixo a tela de Ernest Meissonier para que você mesmo possa julgar se “O Grito do Ipiranga” é uma obra que pode ser considerada um caso de plágio ou não.
Batalha de Friedland. Obra de Ernest Meissonier.

Não se pode negar a semelhança entre ambas!


(Foto disponibilizada no blog "Aleks Palitot Trilhando a História")

Nesta foto tirada no Museu Paulista, aonde o quadro de Pedro Américo está exposto,
dá para se ter uma noção exata das dimensões do quadro "O Grito do Ipiranga".
 

Para finalizarmos, gostaria de dizer que para mim em especial não importa se D. Pedro estava montado num maravilhoso cavalo ou numa mula, se estava com diarréia ou não, se suas roupas não eram tão glamorosas quanto aparecem na tela de Pedro Américo e mesmo se o 7 de setembro de 1822 deveria ou não ser comemorado como a data oficial da Independência do Brasil, já que os últimos focos da resistência portuguesa caíram quase um ano após desta data, na província da Bahia, em 2 de julho de 1823. O que é válido nisso tudo, é o fato de que ali, à beira do Ipiranga, nascia digamos que de forma oficial, não o desejo, este já existia por parte de alguns, mas a disposição de enfrentar as consequências de uma possível separação de Portugal. Analisando bem estes 189 anos da emancipação política do Brasil podemos concluir ligeiramente que esta tal “luta pela independência” tem acontecido dia a dia, pois nos livramos de Portugal, mas não da fome, da desigualdade  e da corrupção tanto no campo político quanto no social,  mas sigo acreditando piamente que esta, a independência, esteja hoje mais próxima de ser alcançada, do que em 1822.
Bom galera, obrigado pela atenção destinada ao blog e deixo com vocês o Hino da Independência, que aliás é lindo e infelizmente pouca gente conhece.


Forte abraço e saudações históricas!