quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PAPAI NOEL, SÃO NICOLAU E A COCA-COLA

Olá pessoal!

Está chegando o final do ano e com ele os festejos natalinos, e por falar em Natal, não poderíamos deixar de abordar uma figura histórica referente a este período do ano: o PAPAI NOEL. Várias versões e relações são criadas, recriadas, contadas e estabelecidas sobre o surgimento desta lenda natalina. Ao longo da pesquisa realizada para esta postagem pude perceber que o processo de criação deste relevante personagem natalino, tal qual o conhecemos nos dias atuais, tem estreita relação com religiosidade, tradição e o sistema capitalista.

São Nicolau
A história do Papai Noel, embora alguns religiosos rebatam esta tese, tem relação com São Nicolau, santo da Igreja Católica. Vejamos um trecho de uma hagiografia, uma espécie de biografia dos santos produzida pela Igreja Católica na Idade Média:
Nicolau nasceu no ano de 270, na cidade de Patara, no sul da atual Turquia, na Ásia Menor. Os seus pais eram cristãos devotos e, desde crianças, ele mostrou-se um predestinado. Ficou órfão muito jovem e decidiu usar sua herança em obras de caridade. Andou em peregrinação pela Terra Santa e pelo Egito e, quando voltou à terra natal, tornou-se o bispo de Myra. Foi exilado em 303, quando a religião católica foi proibida ali. Morreu em 343 e foi enterrado em Myra.
Conta-se que Nicolau dedicou sua vida à caridade e aos atos de benevolência, muitos deles conhecidos. O mais famoso é o episódio em que ele salvou três irmãs muito pobres, que não podiam se casar porque o pai não tinha como pagar, os seus dotes. Sem o casamento, naquele tempo, as mulheres perderiam sua honra. Nicolau deu a elas uma oportunidade de ter uma vida digna, atirando, de noite, três sacos com ouro suficiente para os dotes de cada uma das moças. Essa história ganhou várias versões diferentes, o que a transformou em lenda.
Em razão de seus atos, depois de morto, passou a ser honrado, venerado e reconhecido como santo milagreiro. No final do século XI, suas relíquias, consideradas miraculosas, foram transportadas por um grupo de mercadores italianos para a cidade de Bari, na Itália, onde até hoje há um santuário, que virou local de peregrinação.
São Nicolau foi nomeado padroeiro das crianças, dos estudantes, dos marinheiros, dos solteiros e da Rússia. Criou-se a tradição de, no dia 6 de dezembro, dedicado ao santo, dar presentes às crianças, seguindo o seu exemplo. (MAGALHÃES, Gustavo Celso; HERMETO, Miriam. Coleção Pitágoras. 2010)


Representação de São Nicolau.
Nesta imagem ele já aparece mais velho e pela roupa que usa nos leva a acreditar
que já desempenhava a funçãode bispo católico.
Repare como suas características físicas já
possuem uma semelhança com a imagem atual do Papai Noel.
Diante disso, devemos nos apegar principalmente ao fato de que o ato de caridade de Nicolau em relação às três meninas apontadas pelo texto, se tornou uma tradição, a de dar presentes no dia dedicado ao santo. Anos mais tarde esta tradição foi transferida para o Natal. No entanto a fama de Nicolau foi ganhando ao longo dos anos uma proporção grandiosa, como nos mostra o texto abaixo:
Na Europa, o culto a São Nicolau só cresceu depois do século XI, espalhando-se enormemente. Ele passou a ser considerado o patrono da Rússia e várias igrejas foram criadas em sua homenagem, pelo mundo cristão. Na Alemanha, manteve-se a tradição de dar presentes no dia de São Nicolau. Com o tempo, sua imagem passou a ser associada às festividades de Natal, que se transformou em uma festa famosa e popular. E a lenda do bom homem que distribuía presentes natalinos cresceu mundo afora, assim como o hábito de trocar presentes.
Mas, parece, foi nos Estados Unidos, a partir do século XIX, que são Nicolau começou a ser associado à lenda do Papai Noel. Foi ali que se construíram as características do Noel que o mundo ocidental mais conhece hoje. Como toda lenda, essa pode ter sido construída por vários caminhos e tem muitas versões. Mas um desses caminhos é conhecido atualmente.
Em 1822, Clement C. Moore escreveu um poema para seus filhos, chamado “A Visit from St. Nicholas” (Uma visita de São Nicolau). Ele narrava a história do velhinho que passava em um trenó puxado por renas e entrava nas casas pelas chaminés.
O primeiro desenho retratando a figura do Papai Noel como conhecemos nos dias atuais foi feito por Thomas Nast e foi publicado na revista Harper’s Weekley, na edição especial de Natal do ano de 1866. O desenho retratava o bom velhinho com bochechas rosadas, uma vestimenta marrom e uma coroa de azevinhos (um tipo de planta usado nas decorações natalícias) na cabeça. Observe abaixo, como o Papai Noel feito por Thomas Nast, já apresentava características físicas bem semelhante ao da atualidade.
Papai Noel criado por Thomas Nast.

A última característica incluída na figura do Papai Noel é sua blusa vermelha e branca. Essa imagem se popularizou de vez, depois do uso que a Coca-Cola fez dela em suas propagandas.
O produto já existia desde o final do século XIX, e era vendido, incialmente, em farmácias. Por volta de 1930, a empresa fez uma campanha, em busca de um público mais jovem. Contratou um desenhista que recriou o Papai Noel: um velhinho gorducho, com um sorriso simpático e vestido com as cores da marca da Coca-Cola.
Na segunda metade do século XX, a Coca-Cola só cresceu, tornando-se conhecida e consumida no mundo inteiro. Com ela, a imagem do velhinho de vermelho circulou pelo mercado global e, praticamente, tornou-se a imagem oficial do Papai Noel. (MAGALHÃES, Gustavo Ceslso; HERMETO, Miriam. Coleção Pitágoras. 2010)
Papai Noel criado pela Coca-Cola.

Diante de tudo, segue a discussão sobre o impasse daqueles que defendem que o Papai Noel deve ser considerado um símbolo da cultura natalina e daqueles que o julgam como um ícone do sistema capitalista que representa apenas o consumismo. No entanto, ao darmos uma conferida na História e no processo de criação deste polêmico e porque não dizer, controverso personagem, veremos que no fundo, lá em sua essência original, ele possui um pouco dos dois, da religiosidade pelo fato de que a sua principal ação, a de dar presentes às crianças, está ligada a uma tradição católica, esta fruto da caridade feita por São Nicolau e também do consumismo, já que com o advento do sistema capitalista, dar presentes, se tornou sinônimo de comprar presentes, ou seja, consumir, pelo menos é essa conotação que o comércio tenta nos impor em todo período natalino.
Ficamos por aqui, um forte abraço e um ótimo Natal a todos!


terça-feira, 29 de novembro de 2011

SOCIEDADE FRANCESA NO FINAL DO SÉCULO XVIII

Caricatura Francesa do final do século XVIII.
Biblioteca Nacional de Paris

Olá pessoal! Bom estar com vocês mais uma vez.
Nesta postagem analisaremos o simbolismo de uma caricatura francesa do final do século XVIII. No decorrer da postagem faremos uma associação desta com a realidade vivida pela sociedade francesa a luz daquela época.
Para melhor fazermos essa associação aqui proposta, cabe-nos explanar rapidamente acerca da configuração social francesa no final do século XVIII. Então vamos lá!
Naquela época a França era composta de aproximadamente 24 milhões de habitantes e nessas condições, era disparadamente o país mais populoso do continente europeu. Outro fator que merece destaque é a desigualdade social existente entre os franceses daquele período. Submissa a um sistema político absolutista, a sociedade francesa era dividida em três estados ou grupos sociais como podemos ver abaixo:
Primeiro Estado: Composto pelo clero da Igreja Católica que curiosamente se dividia em duas classes distintas: o alto clero (cardeais, bispos e abades) e o baixo clero (padres, frades e monges). Na realidade o alto clero gozava de privilégios estatais e pelo fato de legitimar o poder real, lhes era concedido a isenção do pagamento de tributos (impostos). De contrapartida, o alto clero possuía um poder de arrecadação de tributos invejável, alicerçado na cobrança do dízimo, das altas taxas que eram exigidas dos fiéis na realização de batismos, casamentos e sepultamentos. A riqueza acumulada pela Igreja ainda bebia de outra importante fonte, as terras. O alto clero concentrava uma grande quantidade de terras e consequentemente um número muito grande de trabalhadores que prestavam serviços e pagavam excessivas taxas.
Segundo Estado: Esta parcela da sociedade francesa era composta pelos integrantes das famílias tradicionais, também conhecidos como nobres. Para a nobreza também eram destinados privilégios reais, como por exemplo, o não pagamento de impostos, cargos públicos importantes, dentre outros. A nobreza francesa era também detentora de grandes propriedades de terras e consequentemente possuíam muitos servos que trabalhavam nestas terras e pagavam pesados impostos aos nobres.
Terceiro Estado: Este grupo social era composto pelos camponeses, trabalhadores urbanos e a burguesia que juntos equivaliam a aproximadamente 98% da população francesa. A eles não eram destinados nenhum tipo de privilégio real, muito pelo contrário, recaia sobre estes o pesadíssimo fardo do pagamento de impostos e para os camponeses, em especial, lhes eram acrescidos ainda, as obrigações feudais. Na realidade era o Terceiro Estado que sustentava os outros dois, ou seja, 98% de pobres, miseráveis sustentando as regalias e os privilégios de 2% de ricos.
Bom... agora que conhecemos um pouco a realidade de cada grupo social francês daquela época, passemos a observar a caricatura proposta. O traje de cada um dos personagens, torna fácil a identificação dos mesmos, sendo assim, o primeiro que está acima ou nas costas do velho, traz ao peito um crucifixo, trata-se de um integrante do clero, provavelmente do alto clero. O Segundo personagem que está nas costas do velho, carrega consigo uma espada, além disso, repare como está muito bem vestido, dessa forma podemos concluir que trata-se de um nobre. Por fim, o velho, carrega nas costas os dois, o nobre e o religioso. Com uma expressão de sofrimento, cansaço, parece não aguentar mais por muito tempo o fardo que carrega sozinho.
A caricatura é fantástica, a disposição dos personagens é perfeita, observe atentamente. Em primeiro (acima) vem o 1º Estado, representado por um integrante do alto clero, logo atrás dele vem o 2º Estado, representado por um nobre e por último (abaixo) vem o 3º Estado, representado por um camponês, a identificação deste torna-se evidente não só pela roupa desgastada que ele usa, mas também pela presença de ovelhas e passarinhos que comem sementes ao chão, tornando o ambiente pelo qual se passa a cena, rural.
Simbolicamente a cena retratada chama a atenção da sociedade francesa da época para a questão da exploração sofrida pelos camponeses que, ao trabalhar nas terras pertencentes ao clero e a nobreza, acabavam por sustentar, através do sistema servil e dos tributos pagos, o 1º e 2º Estados.
Para finalizarmos, confesso que tentei procurar a autoria da caricatura aqui analisada, mas ela está em anonimato, o que não nos impede de tecer elogios ao indivíduo que a criou, pois o mesmo conseguiu sintetizar os problemas oriundos a desigualdade da sociedade francesa em apenas um simples desenho, em uma simples imagem.

Forte abraço a todos e saudações históricas!

domingo, 13 de novembro de 2011

A BANDEIRA PROVISÓRIA DA REPÚBLICA BRASILEIRA

Primeira Bandeira do Brasil República.

A exatos 122 anos atrás, caía o sistema monárquico brasileiro. Altamente desgastado, o reinado de D. Pedro II não atendia mais aos interesses de boa parte da sociedade brasileira. O crescimento do movimento republicano, a abolição da escravatura sem nenhum tipo de recompensa aos proprietários de escravos, os conflitos entre Estado e Igreja, o desejo de maior participação no campo político, dentre outros aspectos engrossavam a gama de problemas a serem enfrentados por D. Pedro II na última metade do século XIX.
Na verdade a queda da monarquia brasileira era questão de tempo e já era esperada por muitos. O que não se esperava, era a rápida resolução do caso. Na noite de 15 de novembro de 1889, oficiais militares sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca aplicara o golpe militar obrigando a renuncia do ministério imperial e a proclamação do regime republicano no país. Isso mesmo, a suplantação do sistema monárquico brasileiro, foi realizada por um grupo de militares que fizera o trabalho em poucas horas, sem a participação popular, de políticos e sem a menor resistência por parte do então governo brasileiro.
Dessa forma, coube às camadas populares, o conformismo que se fez presente na seguinte expressão: “Fomos dormir Monarquia e acordamos República”.
Acredito que a facilidade encontrada no processo de transição do sistema político brasileiro em 1889 pegou de surpresa até mesmo os próprios republicanos. Uma prova disso, é que não se tinha até aquele momento, sequer um rabisco de uma nova bandeira para o Brasil, já que a bandeira imperial era composta por elementos que contemplavam o sistema monárquico. Diante de tal situação, a solução encontrada foi adotar uma bandeira provisória, esta mesma proposta no início dessa postagem e que ficou hasteada durante cinco dias após a proclamação da república.
Percebam como ela é completamente diferente da atual. O que se assemelha são os sentidos atribuídos as cores (VERDE - o vigor das matas brasileiras; AMARELO - as riquezas minerais; AZUL - o céu; BRANCO - a paz) e as estrelas que também representam os estados brasileiros.
Outro fator a se notar é a semelhança com a bandeira dos Estados Unidos, e de fato, esse era o propósito, já que na base ideológica do movimento republicano existia o desejo de implantar um sistema federalista no Brasil idêntico ao norte-americano, opondo-se dessa forma ao centralismo monárquico.

Uma curiosidade a respeito desta bandeira é que o estilo dela acabou inspirando na formulação de outras bandeiras de alguns estados brasileiros.Vejamos alguns exemplos a abaixo:

Antiga bandeira de Sergipe


Antiga bandeira do Piauí


Bandeira de Goiás
Embora a primeira bandeira republicana do estado brasileiro tenha recebido o status de provisória e que a sua condição de “validade” tenha durado apenas 5 dias, estes foram suficientes para inserí-la na história do nosso país, representando dessa forma, as aspirações da era republicana que acabava de nascer.

Se queres saber mais sobre à proclamação da república, aqui mesmo no blog História por Imagem você vai encontrar outra postagem a respeito da construção dos símbolos nacionais neste período da nossa história. Se interessou? Confira ou relembre esta postagem clicando aqui.
Para encerrar, disponibilizo abaixo o hino da Proclamação da República:

Forte abraço e a gente se encontra por aqui.
Saudações históricas!



domingo, 30 de outubro de 2011

JÂNIO QUADROS E A TAL CONDECORAÇÃO DE GUEVARA

O presidente Jânio Quadros condecorando o ministro cubano Ernesto Guevara
com a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, em agosto de 1961.

Em 1960 o candidato a presidente da república Jânio Quadros, vencia as eleições com cerca de 48% dos votos válidos. Sua vitória representara um certo consolo para os udenistas (UDN-União Democrática Nacional), partido político de Jânio, e que já havia sido derrotado  em eleições anteriores.
Jânio Quadros em campanha eleitoral (1960) 
Com uma vassoura em punho, o lema de campanha de Jânio Quadros era “Varrer a corrupção e o empreguismo público”. Seu perfil moralista o fez adotar medidas polêmicas como, por exemplo, a coibição ao uso de biquini em praias, a proibição das corridas de cavalos em dias de semanas, dentre outros aspectos.
Uma dura tarefa aguardava Jânio Quadros, já que as condições econômicas do país não estavam bem, a dívida externa havia crescido assustadoramente no mandato anterior, o de Juscelino Kubitschek, sem contar, a alta inflacionária. Numa tentativa de minimizar os problemas e equilibrar as contas, Jânio adotou algumas medidas como o congelamento dos salários, o aumento de impostos e suspendeu algumas linhas de créditos que o governo disponibilizava para empresários e importadores de trigo e petróleo. Sem essas linhas disponíveis, o preço do pão e da gasolina sofreu em pouco tempo um reajuste na ordem de 100%.
Como já deu para perceber, estamos falando de um político polêmico e é justamente uma dessas atitudes polêmicas que colocamos agora em nossa discussão. A imagem proposta para nossa postagem trata-se de uma fotografia, um registro histórico que nos mostra uma das mais polêmicas atitudes de um governista no período democrático compreendido entre os anos de 1946 a 1964. A fotografia registra o exato momento em que Jânio Quadros condecorava, com a mais alta honraria da nação brasileira, a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, o então ministro cubano Ernesto Che Guevara, como se observa na foto.
Até ai, tudo certo? Errado! É preciso lembrar que vivíamos neste período a "paranóica" Guerra Fria e a atitude de homenagear um líder comunista em solo capitalista, por mais desprenteciosa que seja, não poderia passar despercebida e sem qualquer tipo repercussão ou "buchicho" político.
Sendo assim, diante de tal homenagem, os setores mais conservadores da política e da sociedade brasileira, acusavam Jânio Quadros de ter se alinhado ao bloco comunista e chegaram até mesmo a cogitar que a intenção de Jânio era implantar uma ditadura no Brasil. É em meio a esse conturbado contexto, que surpreendentemente no dia 25 de agosto de 1961, o então presidente da república renunciara. O motivo, não muito claro, de sua renúncia abriu brechas para muitas interpretações. Alguns afirmaram que a renuncia de Jânio Quadros fora uma estratégia do mesmo com o objetivo de se perpetuar no poder, desta vez, sem processo eleitoral, mas trazido pelos braços do povo que exigiria nas ruas a sua volta, o que acabou não acontecendo.
De certo é que o Congresso, composto em sua maioria por oposicionistas, não titubeou em aceitar a renuncia de Jânio Quadros, que com apenas com apenas 7 meses de empossado, via seu mandato chegar ao final.
Segundo o historiador Boris Fausto, a intenção de Jânio ao condecorar Che Guevara era simbólica, na verdade o presidente brasileiro queria anunciar ao mundo, ao reatar as relações diplomáticas com os soviéticos, que as relações políticas internacionais do Brasil a partir daquele momento era independente, ou seja, não estaria submissa as determinações nem dos Estados Unidos, líder do bloco capitalista, nem muito menos da União Soviética, líder do bloco comunista. Ainda nesta linha de raciocínio de Boris Fausto, o prefeito de Brasília em 1961, Paulo de Tarso Santos, por meio de um depoimento recorda aquele momento:
 “A condecoração foi um ato artificial porque não era uma adesão política do Jânio ao Guevara. O governo todo, aliás, ficou horrorizado com ela. Ninguém queria dar o almoço protocolar, nem os ministros, nem o próprio Palácio do Planalto. (...) A cerimônia de condecoração, imagine, ocorreu às 6 horas da manhã. Depois Guevara foi deixado às moscas. Após o almoço eu sobrevoei Brasília, de helicóptero, com ele. (...) Quando nós aterrissamos, de volta, no aeroporto, não havia nos esperando um único ministro de Estado, uma única figura oficial, sequer havia um único soldado.” (SANTOS, P.T. 64 e outros anos. São Paulo: Cortez, 1984. p.34-5)
Contudo, o governo de Jânio Quadros foi um dos mais curtos da nossa história política e as atitudes polêmicas adotadas pelo então presidente custou-lhe muito caro, além de render-lhe adjetivos como o de exibicionistas, traidor, covarde, etc. Também se faz necessário perceber que em 1961 as bases do golpe militar que seria aplicado em de 1964, já estavam sendo articuladas e isto ficou bem visível quando os militares queriam impedir a posse de João Goulart, vice de Jânio Quadros, pelo fato do mesmo ter características de cunho nacionalista e populista.
Sendo assim, ficamos por aqui.
Um forte abraço!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A DESIGUALDADE EXPRESSA NUM SIMPLES JANTAR DO BRASIL COLONIAL

JEAN-BAPTISTE DEBRET: Um jantar brasileiro, 1827



“Um jantar brasileiro” é uma das obras do francês Jean-Baptiste Debret, mais difundidas pelos livros de História que abordam as relações cotidianas do Brasil Colonial. Pintor e desenhista, Debret, proporcionou aos brasileiros, um valiosíssimo acervo de imagens que servem de referência para estudiosos e curiosos da nossa história e cultura sobre a primeira metade do século XIX.
A tela proposta para esta postagem nos permitirá fazer uma análise crítica acerca das disparidades existentes na sociedade brasileira daquele período. O escravismo era o pilar de sustentação econômica e social, pois por aqui, Brasil, quem trabalhava mesmo eram os escravos.
Feitas as primeiras observações, vamos a nossa análise.
O primeiro aspecto que nos chama a atenção ao observar a cena é a extrema facilidade na qual conseguimos identificar os livres e os cativos. Isto se dá quase que única e exclusivamente pela cor da pele. De forma secundária, essa diferenciação é feita também pelo fato de que alguns negros servem, é o caso da negra que abana o casal, e de que os outros estão à disposição dos brancos para atender a qualquer situação ou solicitação que porventura surja.
A farta mesa devorada pelo casal é um ponto estratégico para refletirmos a desigualdade social existente na época. Imagine você, segundo descrições do próprio Debret, em sua obra “Uma Viagem Pitoresca ao Brasil”, um jantar na casa de um pequeno ou médio negociante, como o que se vê na cena, era constituído de:

“(...) de uma sopa de pão e caldo gordo, chamado caldo de substância, porque é feita com um enorme pedaço de carne de vaca, salsichas, tomates, toucinho, couves, imensos rabanetes brancos com suas folhas, chamados impropriamente nabos etc., tudo bem cozido. No momento de pôr a sopa à mesa, acrescentam-se algumas folhas de hortelã e mais comumente outras de uma erva cujo cheiro muito forte dá-lhe um gosto marcado bastante desagradável para quem não está acostumado. Serve-se ao mesmo tempo o cozido, ou melhor, um monte de diversas espécies de carnes e legumes de gostos muito variados embora cozidos juntos; ao lado coloca-se sempre o indispensável escaldado (flor de farinha de mandioca) que se mistura com caldo de carne ou de tomates ou ainda com camarões; uma colher dessa substância farinhosa semi-líquida, colocada no prato cada vez que se come um novo alimento, substitui o pão, que nessa época não era usado ao jantar. Ao lado do escaldado, e no centro da mesa, vê-se a insossa galinha com arroz, escoltada porém por um prato de verduras cozidas extremamente apimentado. Perto dela brilha uma resplendente pirâmide de laranjas perfumadas, logo cortadas em quartos e distribuídas a todos os convivas para acalmar a irritação da boca já cauterizada pela pimenta. Felizmente esse suco balsâmico, acrescido a cada novo alimento, refresca a mucosa, provoca a salivação e permite apreciar-se em seu devido valor a natural suculência do assado. Os paladares estragados, para os quais um quarto de laranja não passa de um luxo habitual, acrescentam sem escrúpulo ao assado o molho, preparação feita a frio com a malagueta esmagada simplesmente no vinagre, prato permanente e de rigor para o brasileiro de todas as classes. Finalmente, o jantar se completa com uma salada inteiramente recoberta de enormes fatias de cebola crua e de azeitonas escuras e rançosas (tão apreciadas em Portugal, de onde vêm, assim como o azeite de tempero que tem o mesmo gosto detestável). A esses pratos, sucedem, como sobremesa, o doce-de-arroz frio, excessivamente salpicado de canela, o queijo de Minas, e mais recentemente, diversas espécies de queijos holandeses e ingleses; as laranjas tornam a aparecer com as outras frutas do país: ananases, maracujás, pitangas, melancias, jambos, jabuticabas, mangas, cajás, frutas do conde, etc.” (DEBRET, 1839)

Ufa, deu até fome!
Se por um lado, a comilança e a farta mesa de jantar do negociante se repetia a cada dia, do outro lado, compunham a refeição dos negros cativos apenas “(...) dois punhados de farinha seca umedecidos na boca pelo suco de algumas bananas ou laranjas.” (DEBRET, 1839)
Acredito veementemente que isso explica o fato do escravo que está em pé, próximo a mesa, manter “o olhar fixo” para a suculenta comida posta a mesa. Faminto ou no mínimo mal alimentado, o que ele deveria está pensando diante de tal situação?
Já na parte inferior da tela, nos é apresentado duas crianças que ainda não atingiram a idade de serem utilizadas nos serviços mais pesados, ou seja, na labuta e na crueldade do dia a dia do escravismo colonial brasileiro. Acerca destas crianças, o próprio Debret descreve que

“(...) é costume, durante o tête-à-tête (conversa a parte entre duas pessoas) de um jantar conjugal, que o marido se ocupe silenciosamente com seus negócios e a mulher se distraia com os negrinhos que substituem os doguezinhos (cachorros), hoje quase completamente desaparecidos na Europa.” (DEBRET, 1839)

Dessa forma, assim como os cães que ficam ao pé da mesa na hora do almoço ou do jantar, na espreita de conseguir algo, as crianças cativas recebiam das mãos de sua senhora, manjares e doces. Pobre gurizada, que mal acostumada aos “mimos” de sua senhora, em breve cairá na laboriosa luta diária de um escravo e passará a comer a tal farinha umedecida com suco de algumas poucas laranjas ou bananas.
Cabe-nos ainda destacar alguns outros detalhes da cena, como por exemplo, a roupa nada elegante, usada pelo negociante. De fato a ostentação era um elemento que constituía as relações sociais das pessoas abastardas do período, mas o jantar era “sagrado”, sendo assim, procurava-se está à vontade para saciar fome e vivenciar aquele momento não só íntimo, mas importante do dia. Sobre este aspecto, Debret nos conta que:

“Era muito importante, principalmente para o estrangeiro que desejasse comprar alguma coisa numa loja, evitar de perturbar o jantar do negociante pois este, à mesa, sempre mandava responder que não tinha o que o cliente queria. Em geral não era costume apresentar-se numa casa brasileira na hora do jantar, mesmo porque não se era recebido durante o jantar dos donos. Muitas razões se opunham: em primeiro lugar o hábito de ficar tranquilamente à vontade sob uma temperatura que leva, naturalmente, ao abandono de toda etiqueta; em seguida a negligência do traje, tolerada durante a refeição; e, finalmente, uma disposição para o sossego que para alguns precede e para todos segue imediatamente o jantar.” (DEBRET, 1839)

Por fim, uma vez destacados os principais pontos da tela, podemos chegar a conclusão de que além de patriarcal e escravista, os pilares da sociedade brasileira colonial estavam fundamentados no quesito desigualdade, e assim, nos cabe a importantíssima consciência histórica de que esta mesma configuração de sociedade, deixou enraizado este mal ainda não totalmente superado nos dias atuais. Se a cena de "Um jantar brasileiro" pintada por Debret, revela um aspecto que cotidianamente se repetia nos lares daquele período, Brasil a fora, aonde dois ou três saciavam a fome sentados a farta mesa servida por quatro, cinco ou seis famintos, não é difícil compreender porque que no Brasil atual as diferenças sociais são tão ruidosas que a sensação que se tem é de que numa reprodução contínua da tela de Debret, em proporções muito maiores, o Brasil nada mais é, política, cultural e economicamente falando, que dois, três ou quatro sentados à fartíssima mesa, servida por um número incontáveis de famintos.

Ficamos por aqui pessoal!
Um fortíssimo abraço e Saudações!



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

BLOQUEIO CONTINENTAL: o planeta sob a fome de mercado dos franceses e dos ingleses




A charge proposta para esta postagem foi produzida no início do século XIX pelo caricaturista  inglês James Gillray. A Cena criada procura retratar o clima de tensão vivido entre as duas maiores potências econômicas da época, França e Inglaterra, no exato momento em que Napoleão Bonaparte, imperador francês, decreta o Bloqueio Continental (1806), impedindo às nações do continente europeu que estavam sobre o seu domínio, de estabelecerem qualquer tipo de relações comerciais com a Inglaterra. Esta medida napoleônica visava enfraquecer a economia britânica.
Dessa forma, dotado de uma sensibilidade aguçada para tratar em suas obras de questões ligadas ao campo político e social, Gillray, fantasticamente utiliza-se de um banquete para demonstrar, ilustrar e satirizar a fome (gana) e a rivalidade destes dois grandes impérios que na charge encontram-se representados pelo Primeiro Ministro inglês William Pit (sentado à esquerda) facilmente identificado pela figura contida na cadeira em que se senta, um leão, símbolo da Grã-Bretanha, portando uma bandeira da Inglaterra e o Imperador francês Napoleão Bonaparte (sentado à direita), também facilmente identificado pelas plumas que compõe seu chapéu, nas cores azul, branco e vermelho, cores estas da bandeira francesa,  e pela águia real, símbolo utilizado por Bonaparte para representar o seu império. No centro da mesa, servido em uma bandeja como se fosse um bolo que acabara de sair do forno, muito apetitoso por sinal, está o planeta Terra que à luz daquele período encontrava-se dividido entre as pretensões francesas e inglesas.
Repare que a espada de Napoleão Bonaparte corta exatamente o continente europeu dividindo-o ou separando-o da Inglaterra, é exatamente neste ponto que se representada as pretensões napoleônicas a respeito do Bloqueio Continental, citado inicialmente neste texto. Por outro lado, percebe-se que a espada de Willian Pit corta o mundo ao meio, ficando sobre o julgo inglês toda a região do Oceano Atlântico aonde se faz presente as Américas, naquele período muito mais promissoras no sentido de mercado quanto a própria Europa.
Vale ainda salientar que esta disputa entre os dois países influenciou e muito na História de tantas outras nações, inclusive a de Portugal e da América portuguesa (Brasil). Foi fugindo da obrigação de aderir ao Bloqueio Continental e da real possibilidade de invasão do território português pelas tropas francesas que a corte portuguesa se transferiu para o Brasil e aqui passou a estabelecer relações comerciais ainda mais intensas com os ingleses. A Inglaterra ainda se beneficiaria nos processos de independência dos países americanos que resultara em nações novas, pouco industrializadas que acabaram se tornando “presa fácil” para o desenvolvido e industrializado mercado inglês. Por outro lado, o tal Bloqueio Continental trouxe sérios problemas para Napoleão Bonaparte que a partir de 1810 começava a ver seu império desmoronar.

Ficamos por aqui e antes de finalizarmos mais uma postagem, gostaria de agradecer a você que sempre tem acompanhado o blog que deverá completar em breve 10 mil acessos em apenas nove meses de criação.

Saudações históricas e um forte abraço!
Até a próxima!


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O GRITO DO IPIRANGA: A independência criada por Pedro Américo

A tela "Independência ou Morte" também conhecida como "O Grito do Ipiranga"
do pintor brasileiro Pedro Américo. 
Se eu pedi a 10 pessoas para retratarem através de um desenho o momento da Independência do Brasil, tenho a absoluta convicção de que todas tentarão representar, copiar, ou recriar a tela “O Grito do Ipiranga” do pintor paraibano Pedro Américo.
A tela que ficou pronta em 1888, e segundo o historiador Alfredo Boulos Júnior “trata-se de uma pintura histórica encomendada pelo governo de D. Pedro II para exaltar D. Pedro I e rememorar o nascimento da nação e do Império Brasileiro.”
Bom, se esse era de fato o objetivo da encomenda, nem é preciso tecer comentários ou discutir se ela atingiu ou não o seu propósito.
Na realidade esta postagem tem por objetivo fazer uma análise crítica e simbólica desta imagem que é facilmente encontrada nos livros didáticos visando ilustrar o 7 de setembro de 1822. Para começarmos, é necessário clarificá-los de que Pedro Américo, embora tenha recorrido a pesquisas para saber de forma exata ou bem próxima disso, as condições geográficas e paisagísticas do riacho do Ipiranga, local do episódio conhecido como “O Grito do Ipiranga” (nome da obra), ou seja, aonde D. Pedro I teria bradado a famosa frase “Independência ou morte!”, o pintor recorreu sobretudo a sua imaginação para tentar recriar a histórica cena.
Pedro Américo dispôs harmoniosamente os personagens em sua tela, podemos até afirmar que artisticamente falando, “O Grito do Ipiranga” é uma obra magnífica. Para que se pudesse ganhar a conotação pretendida, foram necessárias algumas consideráveis alterações e/ou substituições, que pode até mesmo chegarem ao julgo de “grosseiras” se forem comparadas ao que teria de fato ocorrido naquele fim de tarde de 7 de Setembro de 1822.
O que ver-se ao centro da cena, é D. Pedro I de espada em punho, muito bem vestido e montando um vistoso cavalo como se estivesse preparado para enfrentar a possível ira portuguesa. Esta figura central (D. Pedro I) transpassa a sensação de poder, de herói, de liderança, repare que a cena gira em torno dele, e que todos os demais estão a contemplar àquele que se tornaria o primeiro imperador do Brasil. Pedro Américo procurou retratar a todos que acompanhavam D. Pedro, da mesma forma, em trajes esplendorosos e cavalos imponentes, até porque tratava-se dos soldados da Guarda Imperial que a repetir o gesto do regente, o de erguer as espadas, simbolizam o apoio ao mesmo na luta contra o domínio português. Estes dois aspectos observados na tela, destoam completamente do que fora a realidade. Segundo o Cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho, em seu artigo intitulado de “Os esplendores da imortalidade”, em um quadro como esse:

“Dom Pedro não podia montar a besta gateada de que falam as testemunhas. O pedestre animal [...] teve o desgosto de ser substituído no quadro pela nobreza de um cavalo. Com maior razão, [...] o augusto moço não podia ser representado com os traços fisionômicos de quem sofria as incômodas cólicas de uma diarréia, [...] o motivo da parada da comitiva às margens do Ipiranga [...]. O uniforme da guarda de honra também foi alterado. A ocasião merecia trajes de gala, em vez do uniforme ‘pequeno’. [...] Pedro Américo atendendo a finalidade da encomenda, buscou construir a imagem de um herói guerreiro, criador de uma nação. [...]”
 
Complementando o raciocínio de Olavo de Carvalho, podemos afirmar que naquele período as mulas e jumentos eram os animais utilizados para as viagens de longas distâncias, por isso o mesmo levantou a hipótese de D. Pedro I e seus acompanhantes estarem em mulas ao invés de imponentes cavalos como é retratado na tela proposta. Outro aspecto intrigante, é que em 7 de setembro de 1822, nem sequer fora criada ainda a Guarda Imperial, o que se ver na tela, na realidade trata-se de grupos elitistas latifundiários e proprietários de escravos oriundos principalmente das províncias de Minas e São Paulo que prestavam apoio ao regente, em forma de milícia e não de um exército ou Guarda Imperial como é mostrado no quadro. Muito além de simplesmente querer ver o Brasil como uma nação independente, o apoio destes homens é oxigenado pelas pretensões políticas e a possibilidade das concessões de privilégios que poderiam obter a partir do nascimento desta nova nação, o Brasil.
Observa-se ainda, ao fundo da cena, uma casa, esta também fruto da imaginação de Pedro Américo, pois a mesma em 1822 não existia, sendo ela construída anos mais tarde, por volta de 1850, ficando ela eternizada pelo quadro e conhecida por todos como  “A Casa do Grito”.
No canto esquerdo da tela temos alguns trabalhadores que contemplam passivamente o episódio. Não sei ao certo a intenção do artista ao pintá-los, mas que podemos tranquilamente estabelecer uma relação destes com o povo brasileiro e seu papel no processo de independência do Brasil, isto sim, até porque a Independência do Brasil não foi um ato que contou com uma forte participação popular, mas sobretudo elitista.
Duas últimas curiosidades sobre a tela o “O Grito do Ipiranga”: a primeira delas é o tamanho da obra que mede 4,15 X 7,6m, suas dimensões parecem querer tornar grandioso o feito de D. Pedro I, já a segunda curiosade é o fato da mesma está relacionada à possibilidade de se tratar de um possível plágio da pintura de Ernest Meissonier, Batalha de Friedland, uma das batalhas enfrentadas por Napoleão Bonaparte e seu exército. Na época duras críticas foram feitas a Pedro Américo neste sentido. Bom, a respeito disto, deixo a tela de Ernest Meissonier para que você mesmo possa julgar se “O Grito do Ipiranga” é uma obra que pode ser considerada um caso de plágio ou não.
Batalha de Friedland. Obra de Ernest Meissonier.

Não se pode negar a semelhança entre ambas!


(Foto disponibilizada no blog "Aleks Palitot Trilhando a História")

Nesta foto tirada no Museu Paulista, aonde o quadro de Pedro Américo está exposto,
dá para se ter uma noção exata das dimensões do quadro "O Grito do Ipiranga".
 

Para finalizarmos, gostaria de dizer que para mim em especial não importa se D. Pedro estava montado num maravilhoso cavalo ou numa mula, se estava com diarréia ou não, se suas roupas não eram tão glamorosas quanto aparecem na tela de Pedro Américo e mesmo se o 7 de setembro de 1822 deveria ou não ser comemorado como a data oficial da Independência do Brasil, já que os últimos focos da resistência portuguesa caíram quase um ano após desta data, na província da Bahia, em 2 de julho de 1823. O que é válido nisso tudo, é o fato de que ali, à beira do Ipiranga, nascia digamos que de forma oficial, não o desejo, este já existia por parte de alguns, mas a disposição de enfrentar as consequências de uma possível separação de Portugal. Analisando bem estes 189 anos da emancipação política do Brasil podemos concluir ligeiramente que esta tal “luta pela independência” tem acontecido dia a dia, pois nos livramos de Portugal, mas não da fome, da desigualdade  e da corrupção tanto no campo político quanto no social,  mas sigo acreditando piamente que esta, a independência, esteja hoje mais próxima de ser alcançada, do que em 1822.
Bom galera, obrigado pela atenção destinada ao blog e deixo com vocês o Hino da Independência, que aliás é lindo e infelizmente pouca gente conhece.


Forte abraço e saudações históricas!


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

HOLOCAUSTO: O poder do ódio aprendido

Crianças e mulheres judias vigiados por soldados nazistas no Gueto de Varsóvia, na Polônia.


A imagem acima refere-se a um dos desdobramentos mais terríveis da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e porque não dizer da História da humanidade, o Holocausto. A proposta aqui não é a análise desta fotografia em si, mas submetê-la à condição de ferramenta ilustrativa acerca desta temática.  
O Holocausto foi a matança indiscriminada (extermínio) não só de judeus como muitos pensam e até afirmam, mas de grupos indesejados pela política nazista criada por Adolf Hitler. É bem verdade que os judeus encabeçaram a lista dos mais perseguidos e consequentemente dos mortos, porém acompanhava-os diante da extensa lista nazista de perseguição os homossexuais, simpatizantes e militantes comunistas, ativistas políticos, alguns sacerdotes religiosos, ciganos, dentre outros.
O historiador Alfredo Boulos Júnior, descreve em seu texto - A “Solução Final”: Fábrica de Morte - o que de fato acontecia nestes campos de extermínio nazista. Então vamos lá!


A “SOLUÇÃO FINAL”: FÁBRICAS DE MORTE

Em 1942 os líderes nazistas decidiram que matariam todos os judeus em campos de extermínio especialmente construídos para essa finalidade. Era a chamada “solução final”.
Os campos de concentração, locais onde os nazistas faziam os prisioneiros trabalhar como escravos, já existiam na Alemanha há alguns anos, mas os campos de extermínio foram uma “novidade” introduzida em 1942. Dos países ocupados por Hitler, a Polônia era o que tinha o maior número de judeus, cerca de três milhões. Por isso, lá foram construídos os maiores campos de concentração, como Auschwitz, Teblinka e Sobibor.
Prisioneiros de toda a Europa eram levados para esses campos; os nazistas lhes diziam que estavam indo trabalhar para a Alemanha nazista. Na verdade, eles estavam sendo mandados para uma espécie de “matadouro humano”. A maioria dos prisioneiros era composta de judeus, mas além deles havia também um grande número de eslavos (russos, sérvios), ciganos, religiosos pacifistas (padres e pastores que pregavam contra a guerra e também testemunhas de Jeová, que se recusavam a prestar o serviço militar) e outros inimigos do nazismo.
Logo na entrada dos campos, os médicos nazistas separavam as pessoas em duas filas: uma delas era composta de velhos, doentes e crianças, mandados imediatamente para a morte nas câmaras de gás. Essas pessoas não sabiam que estavam sendo mandadas para as câmaras de gás, pois os carrascos nazistas diziam que a fila era para os prisioneiros tomarem banho de chuveiro. Esses médicos também esterilizavam prisioneiros e os usavam como cobaias em experiências.   

Ruínas da Câmara de Gás-Crematório II, em Auschwitz.
Só aqui morreram  cerca de 500.000 pessoas.
  
Os campos de extermínio eram autênticas “fábricas de morte”. Em Auschwitz eram mortas cerca de 6 mil pessoas por dia. Os prisioneiros eram vítimas das piores humilhações e maus-tratos: tinham a cabeça raspada e eram obrigados a andar nus ou em trapos (mesmo durante o gelado inverno europeu); as mulheres eram constantemente violentas pelos guardas, e as condições de higiene eram as piores possíveis (o que favorecia a disseminação de doenças). Antes de a guerra terminar, as notícias sobre o extermínio cometido nesses campos eram vistas como “exagero” ou “invenção” da propaganda dos Aliados. Mas com o fim da guerra vieram à tona muitos documentos, e não foi mais possível esconder o horror.



Prisioneiros eslavos que sobreviveram ao Holocausto.
Eles estavam no campo de concentração de Buchenwald.Repare no estado crítico das instalações e de saúde
em que estes homens se encontravam
no momento em que foram libertos.

Calcula-se que nesses campos foram mortos cerca de 6 milhões de judeus, 300 mil ciganos e centenas de milhares de soviéticos, homossexuais, deficientes físicos e religiosos. Quando terminou a guerra a maioria dos sobreviventes não tinha mais para onde ir. Muitos perderam a família inteira durante a guerra. Havia milhares de refugiados sem lar, pátria ou família, principalmente judeus, na Europa.

As pilhas de corpos dos judeus e demais reclusos se tornavam uma cena comum
nas áreas  dos campos de extermínio nazista revelando-os a crueldade
e o descaso com a vida humana proporcionada por Hitler e seus algozes.

Texto: Alfredo Boulos Júnior
Organização das ilustrações e legendas por Hermes Júnior


Para enriquecer a nossa postagem proponho o vídeo abaixo que foi feito em 1945 durante a libertação dos campos de Buchenwald e Dachau mostrando todo horror do genocídio nazista:



Gostaria também de deixar algumas sugestões de filmes que servem para se estudar ou se trabalhar em sala de aula acerca do tema:





Contudo, todos nós ficamos a nos perguntar: Como o ser humano foi capaz de praticar algo de tamanha crueldade? 
Procurando responder a minha indagação, encontrei num pensamento de Nelson Mandela a explicação perfeita para tudo o que ocorreu durante o Holocausto e é incrível como em contextos históricos distintos, este pensamento explica mais um triste evento da História do homem na Terra ( o Holocausto) de acordo com a dinâmica da lógica nazista:

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem  ou ainda sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." 
(Nelson Mandela)

Ficamos por aqui,
Grande abraço!